Muitos anos antes, porém, quando por alguma
razão Bruno não ligava, Ana perdia a fome, o sono, tinha fantasias de abandono,
os olhos ficavam opacos, o rosto murchava, o vigor lhe escapava por todos os
poros. Ana, que abominava essa dependência e sujeição, amaldiçoava o dia em que
tinha se apaixonado por ele. Muitas vezes tentou se munir de forças para o
extirpar de dentro dela, porém jamais conseguiu fazê-lo. Bruno era a fonte de
seus males, mas também o de sua vitalidade e alegria; sem ele não havia futuro,
o passado empalidecia e o presente era treva gelada.
- Acabou - Ana dizia para si mesma nessas ocasiões. - Acabou - repetia, decretando o fim de seu insuportável sofrimento. Mas, então, subitamente, o telefone tocava e a voz de Bruno tornava a vida possível outra vez.
- Sentiu minha falta? - ele sempre perguntava depois de uma ausência.
- Hum-hum - ela respondia, econômica, embora sua vontade fosse confessar que morrera à míngua, ele era o ar, a água, o fogo e a terra, e bastava ele dizer "alô" para que sua vida se transfigurasse imediatamente.
- Acabou - Ana dizia para si mesma nessas ocasiões. - Acabou - repetia, decretando o fim de seu insuportável sofrimento. Mas, então, subitamente, o telefone tocava e a voz de Bruno tornava a vida possível outra vez.
- Sentiu minha falta? - ele sempre perguntava depois de uma ausência.
- Hum-hum - ela respondia, econômica, embora sua vontade fosse confessar que morrera à míngua, ele era o ar, a água, o fogo e a terra, e bastava ele dizer "alô" para que sua vida se transfigurasse imediatamente.
Com Bruno era mais fácil dormir e acordar, mais
agradável escrever e recordar e a música, as evocações e a paisagem ficavam
mais nítidas, e tudo a mobilizava para o admirável ato de viver.
(O Bruxo, Maria Adelaide Amaral)
Nenhum comentário:
Postar um comentário