O que estaria por trás daquele sorriso?
Tristeza camuflada? Vingança? Frieza? Talvez fosse apenas felicidade,
simples e óbvia. Mas quem disse que ela era óbvia?
Se nem Freud
conseguiu dizer com exatidão, apenas revelou que era um continente
obscuro. Como ela, que nada entendia de comportamento humano saberia
indicar a saída do labirinto?
Era c...omo desvendar o sorriso de
Monalisa. Quantas habitavam sua mente, seus quereres e qual predominava? Descobriu
que as pessoas não mudam, ela não mudou. Continuava ciumenta, teimosa,
encrenqueira e sabia ser doce, contar histórias, inventar personagens,
mudar as lentes da realidade em busca do cenário do sonho. Sabia
quem era, mulher, mãe, amiga, amante, cigana e outras tantas. Sentia
saudade do cheiro da verdade, daqueles que dizem o que pensam, mas
principalmente daqueles que não fazem a menor idéia para onde estão
indo, por não possuírem a arrogância dos que sabem tudo. Preferiu
deixar suas gavetas internas bagunçadas, era assim que se achava. Sentia
as pinceladas do vento no rosto e gostava do arco-íris feito de riso.
Ela era a pressa encolhida no meio da timidez ou a garra que a segurava
na loucura. Era o passaporte rápido pro inferno, com direito a serenata
de anjos de vez em quando. Todos os medos não cabiam na proporção
exata, eram eles que a cobriam de luz e as vezes de escuridão. Além
de mulher, ela era o presente de um verão perfeito, o preto e branco
ocasional do inverno e a presença inoportuna da primaveira no meio de
um outono esvoaçante. Sim, ela preferia a incerteza dos amores
amassados na gaveta, do que a perfeição traiçoeira de um amor alinhado
e démodé. Ela almejava as nuvens sem se importar com a indisposição da
chuva, porque além de secar-se sob o sol ela pendurava todas as
perguntas na cara do vento.
E no meio de tanta gente eu encontrei você Entre tanta gente chata sem nenhuma graça, Você veio... E eu que pensava que não ia me apaixonar Nunca mais na vida.
Marisa Monte
Estou no começo do meu desespero, e só vejo dois caminhos: ou viro doida, ou santa...
Adélia Prado
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Quando criança era assim, não existiam muitas escolhas.
Não se podia andar descalço nem molhar na chuva: constipava.
Menina bonita tinha o cabelo longo, e meninos cabelos curtos.
Manga com leite não podia, nem banana antes de dormir que dava pesadelos.
Papai e mamãe não gostavam, então eu não fazia.
Como boa menina, aprendi tudo o que me ensinaram,
mas ao contrário do esperado, eu constipava ao chupar manga
e tinha pesadelos quando andava descalço.
Resolvi então cortar meus cabelos bem curtos e desaprender tudo!
Descobri um segredo precioso que não me ensinaram de pequena:
Quanto mais cresço, mais eu posso nascer.
Clara Gontijo
Prometo não te ligar
Não escutar aquela música
Não olhar aquela foto
Que eu roubei de você.
Prometo nem mais te amar.
Fernanda Mello
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
- A senhora alguma vez já chorou como uma boba e sem saber por quê? Pois eu já!
Clarice Lispector
**Nossa, muito minha cara isso ai!!! Acontece direto comigo!!!! rsrs
"Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.
Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.
Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.
Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.
Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.
... Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus."
(Pablo Neruda)
É curioso como num relacionamento as pessoas começam e terminam do mesmo jeito: como dois estranhos". Não sei quem é o autor da frase, mas fiquei pensando na dolorida verdade dessas palavras.
Há exceções, eu sei, como em tudo nessa vida, mas a maioria dos nossos relacionamentos acabam mesmo retornando ao clássico abismo da estranheza. Eu e você agora seremos apenas dois estranhos que um dia se viram, se encantaram, se aproximaram, se amaram, trocaram carícias, salivas e segredos para depois tornarem-se pólos contrários, repelindo-se mutuamente.
Pensar sobre o amor e sua efemeridade deixa um gosto amargo de melancolia na boca, é encarar o terrível nada, a dor do vazio. Pode ser e muito provavelmente foi: o vivido talvez nem tenha sido amor. Tanto faz. Estranho mesmo é a intimidade temporária conquistada e perdida, o desnudar-se diante do outro (enganam-se os que pensam que nudez só tem a ver com roupas) e o deparar-se de repente com o olhar de um desconhecido que nada diz porque nada mais sente.
Corpos que um dia se entrelaçaram nus, se descobriram, se conheceram. Bocas que se tocaram, se provaram, sentindo o gosto da outra como se fosse o seu. Sorrisos, suspiros, toques, olhares, beijos, momentos. Tudo agora transformou-se em sombras, páginas rasgadas, lágrimas secas e esquecimento.
Eu e você somos o que não mais existe, ilusões inúteis do que um dia poderíamos ter sido. Nosso amor foi uma criança tola e imprudente, que errou, brincou demais, fez uma bagunça enorme em nossas vidas e confundiu tudo dentro da gente. E nós, adultos sem piedade, o castigamos severamente e, sensatos, nos desfizemos dele enquanto era tempo.
E agora não nos resta mais nada além do que somos: dois estranhos condenados ao suplício de se verem, porém incapazes de se enxergarem. Seguimos cegos, mudos e loucos, erguendo a cabeça, fingindo que não era nem nunca foi e tentando colar os pedacinhos partidos do que um dia foi o nosso coração.
Acalma esse coração, pequena, que desespero nunca resolveu problema...
Caio F. Abreu
- Droga.
- O quê?
- Eu falando de gostar...
- E daí?
- E daí que vai acontecer tudo de novo.
- O quê?
- Vou sentir demais, falar demais, escrever demais, e você vai embora.
Tati Bernardi
sábado, 21 de janeiro de 2012
Eu
queria te contar que não dói mais. Só que agora não importa tanto o que
você vai pensar sobre isso.Queria que você soubesse que já vi nossos
filmes milhares de vezes e nem chorei. Ok, chorei. Mas pelo filme, e
não por você. Queria que você soubesse que tirei a poeira das nossas
músicas, e que as ouço quase todos os dias. Porque elas me faziam mais
falta do que você fez. Os nossos lugares não ...são
mais nossos. Eu já voltei lá com outras pessoas, e escrevi lá outras
histórias...Eu estou aprendendo a tocar violão. E a primeira música que
toquei foi aquela música que era uma espécie de hino pra nós dois. Ela
é tão linda...e sim, ela continua sendo muito nossa e lembrando demais
você. Mas ainda sim, não dói.Você não pergunta essas coisas, mas sei
que gostaria de saber. Porque te conheço. E isso não mudou.
Caio F. Abreu
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
Lembrei que tinha lido em algum lugar
que a dor é a única emoção que não usa máscara...
Se você é
deste século, já sabe que há duas tribos que definem o que é um relacionamento
moderno.
Uma é a tribo dos ficantes. O ficante é o cara que te
namora por duas horas numa festa, se não tiver se inscrito no campeonato “Quem
pega mais numa única noite”, quando então ele será seu ficante por bem menos
tempo — dois minutos — e irá à procura de outra para bater o próprio recorde. É
natural que garotos e garotas queiram conhecer pessoas, ter uma história, um
romance, uma ficada, duas ficadas, três ficadas, quatro ficadas... Esquece, não
acho natural coisa nenhuma. Considero um desperdício de energia.
Pegar sete caras. Pegar nove “mina”. A gente está
falando de quê, de catadores de lixo? Pegar, pega-se uma caneta, um táxi, uma
gripe. Não pessoas. Pegue-e-leve, pegue-e-largue, pegue-e-use, pegue-e-chute,
pegue-e-conte-para-os-amigos.
Pegar, cá pra nós, é um verbo meio cafajeste. Em vez de
pegar, poderíamos adotar algum outro verbo menos frio. Porque, quando duas
bocas se unem, nada é assim tão frio, na maioria das vezes esse “não estou nem
aí” é jogo de cena. Vão todos para a balada fingindo que deixaram o coração em
casa, mas deixaram nada. Deixaram a personalidade em casa, isso sim.
No entanto, quem pode contra o avanço (???) dos
costumes e contra a vulgarização do vocabulário? Falando nisso, a segunda tribo
a que me referia é a dos namoridos, a palavra mais medonha que já inventaram.
Trata-se de um homem híbrido, transgênico.
Em tese, ele vale mais do que um namorado e menos que
um marido. Assim que a relação começa, juntam-se os trapos e parte-se para um
casamento informal, sem papel passado, sem compromisso de estabilidade, sem
planos de uma velhice compartilhada — namoridos não foram escolhidos para serem
parceiros de artrite, reumatismo e pressão alta, era só o que faltava.
Pois então. A ideia é boa e prática. Só que o índice de
príncipes e princesas virando sapo é alta, não se evita o tédio conjugal (comum
a qualquer tipo de acasalamento sob o mesmo teto) e pula-se uma etapa
quentíssima, a melhor que há.
Trata-se do namoro, alguns já ouviram falar. É quando
cada um mora na sua casa e tem rotinas distintas e poucos horários para se
encontrar, e esse pouco ganha a importância de uma celebração.
Namoro é quando não se tem certeza absoluta de nada, a
cada dia um segredo é revelado, brotam informações novas de onde menos se
espera. De manhã, um silêncio inquietante. À tarde, um mal-entendido. À noite,
um torpedo reconciliador e uma declaração de amor.
Namoro é teste, é amostra, é ensaio, e por isso a
dedicação é intensa, a sedução é ininterrupta, os minutos são contados, os
meses são comemorados, a vontade de surpreender não cessa — e é a única relação
que dá o devido espaço para a saudade, que é fermento e afrodisíaco. Depois de
passar os dias se vendo só de vez em quando, viajar para um fim de semana
juntos vira o céu na Terra: nunca uma sexta-feira nasce tão aguardada, nunca
uma segunda-feira é enfrentada com tanta leveza.
Namoro é como o disco “Sgt. Peppers”, dos Beatles:
parece antigo e, no entanto, não há nada mais novo e revolucionário. O poeta
Carlos Drummond de Andrade também é de outro tempo e é para sempre. É ele quem
encerra esta crônica, dando-nos uma ordem para a vida: “Cumpra sua obrigação de
namorar, sob pena de viver apenas na aparência. De ser o seu cadáver
itinerante".
Martha Medeiros
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Coitado do tempo, sentadão numa mesa, com um trilhão de problemas pra resolver....
Tati Bernardi
Então vá, engula o mundo. Prove venenos, descubra antídotos. Quebre a
cara, conserte-a. Se espalhe, se junte quando achar que se perdeu de si.
Chore de felicidade, chore de dor, chore quando quiser.
Busque o que te falta.
Vitória de Melo Bispo
Brindo à casa, brindo à vida,
meus amores, minha família...
Marcelo Falcão
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Quem
disse que ela não se apaixona? É moderninha, finge não ter um coração,
mas ela é do tipo que se apaixona intensamente. Mas ela é diferente, ela
não coloca o amor em primeiro lugar. Primeiro ela, depois ela de novo...
*Desconheço autoria
Dentro
da igreja, ajoelhe-se. No estádio de futebol, grite pelo seu time. Numa
festa, comemore. Durante um beijo, apaixone-se. De frente para o mar,
dispa-se. Reencontrou um amigo, escute-o.
Ou faça
de outro jeito, se preferir: dentro da igreja, escute-O. Durante um
beijo, dispa-se. No estádio de futebol, apaixone-se. De frente para o
mar, ajoelhe-se. Numa festa, grite pelo seu time. Reencontrou um amigo,
comemore.
Esteja, entregue-se.
Martha Medeiros
O que vai ficar na fotografia são os laços invisíveis que havia.
(Fotografia - Leoni)
Você é riacho
E acho que teu rio corre pra longe do meu mar Mar marvado seria o rio
Que correndo do meu riacho
Levaria o que acho
Pra onde ninguém pode achar. O Teatro Mágico
[Camarada D'água]
Apaixonar-se é não ter para onde ir porque já se chegou. É não ter como fugir porque já se encontrou.
Fabrício Carpinejar
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
E nessa de cuidar, vou cuidar de mim. De mim, do meu coração e dessa minha mania de amar demais, de querer demais, de esperar demais. Dessa minha mania tão boba de amar errado.
Caio Fernando Abreu
Sim, como sentir falta de alguém que jamais chegou de verdade, alguém que depois de meia dúzia de palavras sem sentido, começa a morar dentro do seu cérebro oco e te faz desatinar de vez...
Ju Fuzetto
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Não há palavra que traduza
o que somente uma pele grudada em outra pele
faz comunicar,
a paixão traz a alma
para a palma da mão!
[toque]
Be Lins
E toda minha vida
fora condensada naquele instante
quando a tua mão agarrou-se à minha...
Pode uma coisa tão simples
ser tudo o que se quer levar dessa vida?
Be Lins
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
Se não era amor, era da mesma família....
Martha Medeiros
Teria sido preferível que você partisse para a legião estrangeira depois
daquele encontro... ah, teria sido o perfeito: um homem que me dava o
maravilhoso e depois ia embora, sem tempo para me magoar, sem tempo de
matar o sonho... nunca mais foi assim, nunca mais aquele encontro das
primeiras descobertas... eu sabia que ia ser diferente da próxima vez,
quando me despedi de você... mas, inevitavelmente, eu iria me encontrar
com você e voltar, sempre e sempre, esperando que se repetissem a
leveza e a entrega do primeiro encontro... mas isso parecia
irrecuperável... não, você não era o Gary Cooper, nem nenhum daqueles
galãs gentis do tempo da minha mãe... não, você não iria para a legião
estrangeira, nem para a China, nem para nenhum lugar distante... eu
teria que te ver todos os dias e, dia a dia, me entregar à tua maldição
porque o meu lado escuro, essa parte maldita de mim, há tanto tempo
adormecida, já tinha sido despertada e reconhecia em você o sujeito da
minha perdição.