segunda-feira, 2 de abril de 2012


"João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história"

 (Carlos Drummond)







João amava Teresa, era dela seus sonhos mais bonitos e ilusões mais doces. Era ela o destino de suas preces, o encontro de seus desejos, a personificação daquele tipo de amor que ele só havia ouvido falar. Mas Teresa, bem, Teresa achava estar em Raimundo, que nunca a olhou com devoção, a paz que tanto precisava. Queria que Raimundo e sua inconstância fossem a razão das suas noites de sono desperdiçadas, que fosse dele a voz do "bom dia" de todas as manhãs chuvosas e que seu peito batesse mais rápido no canto do pescoço dele. Mas Raimundo queria o colo quente de Maria, queria que sua inconstância sossegasse ali, e não causasse insônia em ninguém; queria esquecer sua vida de inconstância e aventura, a vida que fizera Teresa se apaixonar, e encontrar a calmaria de navegar ao lado de uma pessoa só por todos os mares e abraços. Teresa amava a parte de Raimundo que ele não suportava mais, Maria não amava Raimundo, nem sua inconstância nem sua vida em montanha-russa; Maria sonhava em ser a inspiração das rimas pobres de Joaquim, queria a simplicidade de seus acordes e o silêncio daqueles olhares que diziam tanto. Maria queria ser a musa de todas aquelas canções, ser a moça que fizera aquele coração cantar, ser do tamanho exato do sonho daquele rapaz de coração simples, voz bonita e rimas pobres. Mas aquele rapaz, tão simples, só e dependente, queria a independência de Lili. Joaquim amava o vento de liberdade que passava por ele sempre que Lili se aproximava; amava seus cabelos curtos mal penteados; sua bagunça interna revelada também no seu jeito externo, naquelas unhas roídas, no jeans desbotado, no seu tênis rabiscado. Joaquim queria a descrença de Lili no amor, sua independência, sua felicidade em estar só  - e sã. Mas, só e sã, Lili não amava ninguém.


   E porque o amor tem dessas coisas, porque talvez o que a gente procure não seja bem o que a gente precisa e porque a gente nem sempre sabe do que realmente precisa, essa quadrilha não se resolveu. Porque quando amamos alguém transformamos todo o resto do mundo em preto e branco e porque nenhum deles foi capaz de olhar para o outro lado da rua e de colorir e descobrir o olhar que era dedicado em segredo, a quadrilha terminou em solidão. Porque chances não foram dadas, porque oportunidades foram desperdiçadas e porque atitudes não foram tomadas, ninguém sabe o que poderia ter acontecido. Por que o amor tem dessas coisas? Vezenquando, o amor vira quadrilha. E quando o amor vira quadrilha, a solidão vira o compasso da dança. 


 Nicole Furtado









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