quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

 
 
Pois então, eu quero que você me deixe só, só sendo. Não tenho energia agora para dar respiração a qualquer frase. Não é que eu esteja numa má fase, mas me veio um choro antigo, mal digerido, uma lembrança sem cor. Estava guardado, eu sei, num pedaço qualquer de um restinho desbotado de amor. Deixa só eu limpar essas lágrimas, clarear minhas retinas, desengasgar essa bolha de águas salgadas. Só estou desembaraçando os sentimentos que ficaram órfãos de mim. (...) E por mais que eu amoleça não se aproxime: eu não quero abraços, eu não quero conselhos. Engatinhei demais em cima da brita durante os meus aprendizados, só eu consigo enxergar as feridas e o cuidado que preciso dar para curar os meus dois joelhos. Vá cuidar das suas coisas, embeleze sua rotina - há tempos eu te digo que estar sozinha, às vezes, é minha necessidade e minha sina. Guarde seu colo, seu consolo, suas palavras bonitas. Me deixe só, com o meu choro. Não estou triste nem aflita. Mas preciso descobrir como desatar isto que surgiu sem motivo, desatar este nó. Não há “nós dois” agora, neste fim de dia. Amanhã, quem sabe, eu precise ou queira sua companhia. E te trago de volta, te abro a porta, te abraço pra sempre, assim, de repente. Mas hoje meu corpo clama somente por mim mesma: quero apenas o meu copo em cima da mesa, quero somente meu fiapo de domingo adormecendo aqui. Quero a minha cama larga só pra mim.


 
 
Marla de Queiroz
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 

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