Pois
então, eu quero que você me deixe só, só sendo. Não tenho energia agora
para dar respiração a qualquer frase. Não é que eu esteja numa má fase,
mas me veio um choro antigo, mal digerido, uma lembrança sem cor.
Estava guardado, eu sei, num pedaço qualquer de um restinho desbotado
de amor. Deixa só eu limpar essas lágrimas, clarear minhas retinas,
desengasgar essa bolha de águas salgadas. Só estou desembaraçando os
sentimentos que ficaram órfãos de mim. (...) E por mais que eu amoleça
não se aproxime: eu não quero abraços, eu não quero conselhos.
Engatinhei demais em cima da brita durante os meus aprendizados, só eu
consigo enxergar as feridas e o cuidado que preciso dar para curar os
meus dois joelhos. Vá cuidar das suas coisas, embeleze sua rotina - há
tempos eu te digo que estar sozinha, às vezes, é minha necessidade e
minha sina. Guarde seu colo, seu consolo, suas palavras bonitas. Me
deixe só, com o meu choro. Não estou triste nem aflita. Mas preciso
descobrir como desatar isto que surgiu sem motivo, desatar este nó. Não
há “nós dois” agora, neste fim de dia. Amanhã, quem sabe, eu precise ou
queira sua companhia. E te trago de volta, te abro a porta, te abraço
pra sempre, assim, de repente. Mas hoje meu corpo clama somente por mim
mesma: quero apenas o meu copo em cima da mesa, quero somente meu fiapo
de domingo adormecendo aqui. Quero a minha cama larga só pra mim.
Marla de Queiroz
Nenhum comentário:
Postar um comentário