sábado, 10 de dezembro de 2011



_ Não! não, ela não estava perdida, ela ia mesmo fazer uma lista de coisas que podia fazer!
Sentou-se diante do papel vazio e escreveu:
comer- olhar as frutas na feira- ver cara de gente- ter amor- ter ódio- ter o que não se sabe e sentir um sofrimento intolerável- esperar o amado com impaciência- mar- entrar no mar- comprar um maiô novo- fazer café- olhar os objetos- ouvir música- mãos dadas- irritação- ter razão- não ter razão e sucumbir ao outro que reinvindica- ser perdoada da vaidade de viver- ser mulher- dignificar-se- rir do absurdo de minha condição- não ter escolha- ter escolha- adormecer- mas de amor de corpo não falarei.

Depois dessa lista ela continuava a não saber quem ela era, mas sabia um número indefinido de coisas que podia fazer.

 

Clarice Lispector 










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