quinta-feira, 17 de novembro de 2011



- Seria mentira se eu dissesse que ainda te amo.
- Seria mentira se você dissesse que não me ama mais.
- E então?
- Então estamos perdidos.
- Sempre estivemos. E ninguém nunca nos deu um mapa.
- Talvez não exista um.
- Eu só quero fugir.
- Fugir não vai fazer você se encontrar.
- Eu me encontrei no momento em que nos perdemos.
- Parece contraditório, não?
- Foi o que me restou: me agarrar a mim ou enlouquecer.
- Então pra que fugir?
- Pra desatar o nó de nós, pra nascer de novo, pra sair desses zeros da meia noite e começar um novo dia. Estar suspensa nesse vácuo em que te amar não é mentira nem verdade, me faz mal. Corrói meu coração, ocupa um espaço que eu poderia oferecer pra outro alguém. Essa meia noite em que estou me dá vontade de amanhecer, de girar os ponteiros do relógio por minhas próprias mãos, de assumir o controle desse trem. Meia noite, parada no vácuo, não é ontem, não te amo, mas não é amanhã, não posso dizer que não te amo mais. É o quê então? Alguém tem a resposta? Alguém tem um mapa, uma bússola, um relógio que não esteja parado no tempo?
- Você não mudou. Quer dizer, sim, mudou eu sei, seu cabelo está mais curto, sua franja mudou de lado, você emagreceu. Mas não falo disso, falo dessa sua mania de controle. Você sempre precisou ter algum controle, alguma defesa pronta, alguma ação pré-determinada. Nunca conseguiu ver um papel no chão e não pegar, uma amiga chorando e não socorrer, uma pergunta no ar e não responder. Você sempre resolveu as coisas, ou pelo menos tentou. Te admiro por isso. Mas talvez agora você deva parar. Apenas se deixar levar. Talvez tudo ainda doa demais porque além de te ferir por ser um amor não resolvido, fere suas defesas, fere o que você costumava ser e agora não consegue.
- Eu sei, mas... mas não saber o que fazer me paralisa. Não ando pra trás porque não sei se te amo o suficiente pra arriscar tudo de novo, e não ando pra frente porque não consigo enxergar além desse amor. Amor que eu sinto. Mas que não sinto. E só sei que existe.
- Amor. Como você sabe que é ou não é?
- Se fosse amor eu não cogitaria outra alternativa senão quebrar o relógio às 23:59.
- Mas talvez mesmo seguindo em frente seja amor. Talvez seja amor mesmo quando a gente precisa avançar pra 00:01. Quando o amor precisa continuar sendo, ele é. E isso você precisa aceitar: você não pode controlar.
- E então?
- Então estamos perdidos.
- E isso, pelo que parece, eu também não posso controlar.
- Será que alguém pode?
- Alguém chamado nós, talvez.
- (...)
- Seu silêncio é como a meia noite pra mim. E é disso que eu preciso fugir. Adeus, você.
- Adeus. Até o ponto, até a virada de ponteiro que une novamente nossas rotas perdidas.


(Meu professor de filosofia tem uma filosofia bonita sobre a meia noite: é o infinito do tempo. Ao mesmo tempo que é a última hora de um dia, é a primeira hora do outro; um minuto a mais é um dia, um minuto a menos é outro. Tomei a liberdade de me apropriar dela e fico por aqui, elaborando milhões de possibilidades pra essa peculiaridade tão bonita, pensando que às vezes a nossa vida é bem assim: meia noite. Nem ontem nem amanhã, ontem e amanhã, uma suspensão mínima do tempo. Quando nossas escolhas não estão bem certas, nossos caminhos estão parados, e a gente respira na hora zero da vida pra pensar que rumo tomar. Talvez eu esteja só filosofando bolinhas aleatórias, mas a questão é que eu achei incrível tudo isso e sou apaixonada por metáforas.)
 
 
Nicole Furtado
*Texto lindo.... encontrei aqui
 
 
 
 
 
 





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