sábado, 16 de abril de 2011



“– Você já teve um amor impossível?
- Todo mundo teve! E se fosse possível, não teria deixado tanta saudade. As melhores coisas são as que não se realizam. Viram um gancho em que você pode pendurar o que quiser.”
[ Maria Adelaide Amaral, em uma entrevista para  Revista Marie Claire]


Quantos projetos não saíram da gaveta e volta e meia você se pega pensando neles como um mega projeto revolucionário?
A melhor ideia, em algum momento, você pode acreditar que é aquela que jamais saiu do papel?
Quando te perguntam qual foi a melhor amiga da sua vida, você lembra daquela que chegou sem pedir licença, se instalou no seu ser e sem mais nem menos, por uma briga fútil foi embora sem dizer adeus? Ou melhor, lembra da amiga de infância que ficou lá... na infância.
Quando pensamos na sogra ideal, não lembramos da atual. Direto vem na mente aquela que sempre morou na Sibéria.
A melhor relação é aquela que não durou para ver o dia a dia e suas atribulações chegar ?
O namorado perfeito foi o anterior? Nem lembramos mais que no término ele entrou com o pé e nós com a bunda.
O melhor emprego é aquele que não fomos selecionados. Ah, naquele você ia estourar. Com certeza!
Cidade maravilhosa é aquela que passamos férias das nossas vidas?
O melhor sonho é aquele que ainda alimentamos na nossa caixinha de Pandora chamada cabeça, mesmo que já tenha passado 15 anos?
A melhor fase foi a adolescência, afinal agora você está com 40 anos. Deletou todas as crises de questionamentos que veio no pacote existencialista do alto dos seus 16 anos.
O grande amor é aquele que não vingou ou que já se foi?
Então, caro amigo, além da nostalgia você pendurou vários "se" no cabide do seu armário chamado eu.


Tendemos a nos apegar como náufragos no impossível, no que não aconteceu e não acontecerá. Há de se ter cuidado e atenção para não jogarmos uma responsabilidade indevida em algo que não temos como advinhar.
O impossível seduz, nos consola, nos dá chance de pensar na nossa própria reinvenção. Quem sabe um dia? Algumas vezes o que jamais será nos alimenta, nos alavanca para um futuro mais prazeroso. Muitas vezes ele nos faz emagrecer, nos causa fome. Fome de ser o que não seremos ou não faremos. Por comodidade, por covardia podemos minguar.
Precisamos muitas vezes destas doses homeopáticas para enfrentrar a dura realidade, mais crua mais nua do que nossos sonhos coloridos em telas de HD.
A sabotagem ocorre quando extrapolamos o imaginário e levamos para competir com a nossa realidade nos enredando na teia da zona de conforto para tornar mais fácil os futuros insucessos que inevitavelmente acontecerão. Acontecerão porque já aceitamos eles como destino. Inevitáveis, pois já estamos com um pé para que dê errado.
Comparar o que é com o que poderia ser é golpe baixo. A realidade não ganha a corrida. Só existe comparação entre o concreto e o concreto. Se compararmos sonhos não vingados com projetos realizados há uma desvantagem injusta entre o que foi e o que ficou no ar. A competição é desonesta. Sabemos quem ganhará esta partida.
E ali se instala o abismo entre você e o mundo. Percepção é tão subjetivo, tão pessoal e este pessoal é tão íntimo de nós e tão somente nosso que ali pode encontrar-se, camuflado entre o real e o sonhado, desejos frustrados. Ou no apego acomodado da ilusão do que jamais será?




*Li esse texto aqui, mas ele foi retirado do blog Café e Papo.

Muito bom para refletir!


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