terça-feira, 25 de janeiro de 2011

2+2=5

Se eu tiver sorte, ainda ando na roda-gigante tomando picolé de chocolate num final de tarde cor de laranja de um Janeiro qualquer. E você vai ficar me olhando, com aquele olhar de quem não acredita como tanta felicidade pode caber no sorriso que sai da minha boca pequena e dos meus olhos de cor estranha. E eu vou me sujar com o picolé, como qualquer menina de sete anos de idade. Mas se eu tiver sorte, você vai ter levado uns guardanapos no bolso para limpar meus dedos, que eu não ia me importar tanto assim em lamber.
O laranja do sol se pondo ia combinar com a sua camisa pólo azul, com seus olhos sujos de sonhos, com os nossos planos todos, aqueles que envolvem uma casa de praia verde e rosa, a rede branca, o peixe temperado com limão, e, se eu tiver sorte, todos os feriados do ano.
E quando o moço parasse a roda-gigante, meu vestido rosa ia fingir que ia voar, só pra você colocar a mão na minha coxa e me fazer lembrar bem do nosso começo, quando você tentava descobrir cada partezinha do meu corpo, enquanto eu suspirava duzentas vezes por dentro, e tirava as suas mãos com uma cara de que nada estava acontecendo. Eu tive que fingir que aquele frio na barriga todo ia passar nos próximos dois dias, e que você devia ter um mil defeitos escondidos, porque não era possível existir alguém tão perfeito pra mim. Eu sabia disso por causa dos meus pés, que não eram nem 35 nem 36, e me faziam sofrer pra achar um sapato que eu gostasse muito, e que coubesse do jeito perfeito. Depois dos sapatos, eu me acostumei a não ter nada perfeito pra mim. Esse nada envolvia calça jeans, anéis, tamanhos de argolas, guarda-roupas, e é claro, meninos. Eu passei uma vida inteira me acostumando à meninos imperfeitos, até você aparecer.
E por isso, foi tão difícil pra mim, você sabe. Eu sempre ficava te dizendo o quanto eu não gostava tanto de você, que a gente não combinava tanto, que eu não sabia tanto assim sobre música, que eu não fazia tanta questão de sair com você aos domingos. Tudo aquilo era só uma estratégia pra me manter no lado seguro, só pra não derrubar o muro que eu gastei tanto tempo construindo e reformando, só pra não dizer na sua cara que, desde aquele dia da festa barulhenta e do melhor primeiro beijo do mundo, eu estava louca por você.
Engraçado é que você sempre pareceu saber como eu vivia morrendo de medo de gostar tanto de você. Às vezes te pegava rindo do meu nervosismo e de como eu ficava subindo e descendo o vidro-elétrico do teu carro só pra não ficar te olhando dirigir e cantar Nina Simone com o seu francês fluente de três anos morando em Paris. Eu gastava esse tempo com o vidro-elétrico, e repetia mentalmente: 'Ele não pode ser tão perfeito, Ele não pode ser tão perfeito'. Mas você sempre foi, e eu tive que me acostumar. Me acostumei tanto, que hoje em dia, eu quero tudo perfeito. Perfeito pra mim, é claro.
Se eu tiver sorte, vai estar tocando em algum lugar 'You're a big girl now', e a gente vai se olhar, e lembrar do primeiro raiar de sol que a gente viu na varandinha do seu quarto. Eu vestindo aquela sua camisa do Led Zeppelin, e cabendo direitinho no seu colo, enquanto você mexia nos meus cabelos, e eu ficava de olho fechado, jurando pra todos os santos, ou pra qualquer outra força que move essa vida, que, se eles parassem o tempo ali, só por uns minutinhos, eu daria qualquer coisa em troca. Minha coleção do Woody Allen, Meus livros do Garcia Marquez e até aquele quadro de Monet que Vovó me deu antes de morrer.
Se eu tiver sorte, a gente ainda vai ter essa tarde de roda-gigante, ou se eu tiver sorte, não. Porque com você, pode ser roteiro de comédia romântica, script de programa de culinária, coluna sobre quadrinhos no caderno de domingo, suplemento especial da Veja, pode ser improviso, rebuliço, desaviso, festa ou comício, mas sempre, com você perto de mim.


*Li esse texto aqui: Hoje é tempo de ser feliz 
Achei lindoo..... :) 

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